O alarme tocou. Cinco e meia da manhã. Fechei os olhos novamente. Tocou de novo. Cinco e quarenta. Decido levantar. Botos os pés no chão frio com preguiça de procurar um chinelo. As mãos levantam para o ar, em uma falsa maneira de tentar despertar. Tomei banho de olhos fechados, escovei os dentes sem mal abrir a boca, tomei leite, pois era mais rápido, vesti a camisa errada. Escondi o celular no fundo da mochila, me empurrei no meio das pessoas dentro do ônibus e encontrei um lugar para escorar e tentar dormir por alguns minutos. Era engraçado como muitos estavam de olhos fechados e boca aberta, com fones de ouvidos, inchados e poucos conversavam. Alguns estavam até no celular, digitando palavras doce e engraçadas, como se a vida estivesse linda e você não tivesse que ir para o trabalho chato ou a escola chata.
Demorou 40 minutos até que eu chegasse ao meu destino. Sentei na minha mesa, em frente a um computador que nunca poderia pagar, mexendo em planilhas de empresas que eu nem sabia para o que servia. As pessoas riam e falavam sobre a amante do Seu Carlos, nosso patrão, pois pelo menos na vida dele acontecia alguma coisa. A moça da frente flertava comigo, oferecia café e "bom dias" recheados de alegria, e eu, bem, sorria por pura conveniência. Não fazia sentido nenhum, ela só queria um corpo para esquentar sua cama e tentar esquecer do namorado violento.
Saio às 6 horas e de novo tenho que me espremer em um ônibus, procurando um canto para me apoiar e dormir. As pessoas estão com os olhos fechados e de boca aberta, alguns ouvindo música, outros atualizando incessantemente seus próprios celulares, rindo de pessoas que nunca tinham visto na vida ou achando comum mais 20 pessoas terem sido mortas em um ataque.
Chego em casa, tiro toda a roupa, tomo um banho, como, escovo os dentes, e sento ao lado da minha mãe no sofá, pegando em sua mão. Assim, contamos sobre o nosso dia, enquanto a novela passa na TV, fingimos que grandes coisas aconteceram no nosso dia, além de ter derramado café na blusa do colega do trabalho, e que estamos felizes e realizados com tudo que temos. Mas o que temos não faz sentindo, é puramente automático e ninguém liga para isso.

                     

                                                          


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