Meu riso fácil engana bem. Engana porque quem me olha por fora na fila do banco acha que eu me pareço com alguém tão feliz consigo mesma e que não estava há duas horas atrás me olhando no espelho e odiando a forma como eu fico nessa calça que tô usando hoje. Engana porque não sabem que na minha cabeça se repete o que ele disse antes de ir embora, "não é você, sou eu". Engana porque eu passei a vida inteira achando que com 25 anos eu já seria feliz, já teria o amor da minha vida me esperando no fim do dia em casa; uma vida perfeita. 
Demorou muito pra ficha cair. Eu sei que não existem contos de fadas, nunca acreditei nisso. Mas sempre fui de sonhar. E sonhava demais, esquecendo de viver. A vida inteira sonhando me deu uma vida de inseguranças, um mundo de medos e indecisões. Morar sozinha também mudou muita coisa. Ser adulta mudou a minha percepção sobre as coisas. E é cada vez mais difícil descobrir quem eu sou, ainda que eu tivesse ter feito isso há anos atrás, mais ou menos na minha adolescência. Não sei se foi a falta de amor paterno, ou o desleixo da minha mãe, ou até mesmo a negação dos meus amigos da escola, por ser diferente, esquisita. 
E eu sempre fui mais no meu mundinho, confesso, mas os sonhos sempre me pareceram mais convidativos. O meu mundo sempre foi solitário, mas nunca pareceu ser um problema. Só agora que eu percebi que deveria ter saído desse mundo antes e devia ter me encaixado nesse dos adultos. Deveria ter percebido que eu e meu TOC nunca se encaixaria automaticamente nesse universo sério, sem cor. 
Por isso o meu riso frouxo é pura enganação. Eu finjo rir quando na verdade estou apavorada com o quanto as pessoas estão estranhas - julgam a roupa curta de uma mulher que passou agora, mas eu achei linda a estampa; julgam um casal de dois homens que está parado esperando ser chamado, mas eu os achei tão conectados e apaixonados; julgam o negro que é o gerente do banco, mas ele me parece ser muito responsável e bom funcionário. Eu não entendi ainda se é o meu mundo que é esquisito demais ou... é este que anda hostil. 

Dentre esses dois mundos... Eu acho que prefiro o meu.



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