Hoje, minha irmã parou por um instante o que fazia e me encarou. Ela, em um tom curioso, perguntou: "Até que número vão os anos?". Olhei-a, sem entender o que aquela pergunta queria dizer, mas ela logo complementou: "os números são infinitos. E os anos?". Respondi-a que também são, mas deixei por isso mesmo. Não expliquei-a que isso não significava a eternidade. E isso está me deixando atônita desde então. 
         Quanto tempo nós temos? Até que ano haverá vida na Terra? Até que dia haverá um ser vivo aqui? E isso deveria ser algo a me preocupar? Sempre tive em mente que a morte é a única certeza da vida de todos nós, mas uma certeza individual, que para cada um aconteceria na sua vez. Mas, com essa pergunta que me fora feita, parei para pensar no dia em que nada haverá, assim como teve um dia que nada existia. E isso também me remete à pensar que é um tanto egoísta achar que somos os únicos nesse universo. Deus, sendo grandioso como é, faria somente aqui um lar? E para você que não crê, será possível que apenas nós tenhamos a sorte de viver? 
         Eu sei que é loucura, mas e se nada tivesse acontecido? Seja lá qual for a teoria em que você acredita, já parou para pensar se não houvesse vida? Alguns, eu sei, responderão curto e grosso: não haveria nada e simplesmente nunca teríamos a oportunidade de falar a respeito. Mas eu às vezes me pego pensando nesse mundo sem nem sequer um resquício de vida. Qual seria o sentido? O que há por trás disso tudo e onde estão todas as respostas para as minhas perguntas quase impossíveis de se responder?
         O universo é composto de galáxias, e dentre elas encontramos a Via Láctea, que, por sua vez, compõe-se de planetas e outros astros; dentre esses planetas, tivemos a sorte de que a Terra, em condições perfeitas para que isto acontecesse, houvesse vida; o planeta divide-se em continentes, que divide-se em países, que divide-se em regiões, que divide-se em estados, que divide-se em cidades, que divide-se em bairros, que se organiza em ruas e cada rua tem seus inúmeros lares - mas não era exatamente dessa divisão que eu gostaria de falar. Voltando à vida, essa possui milhões de definições. Cada cultura, religião, lugar, pessoa tem a sua. Mas a de que mais gosto é a que diz que a vida é composta por momentos. E esses momentos, sejam bons ou ruins, eu tenho aproveitado? Desde que tive a sorte de viver - porque, veja, somos sortudos! -, e que depois de tantas outras grandiosidades além da vida, eu não tenho certeza de que sou digna de tal sorte. Sou digna de habitar uma casa, numa rua, num bairro, numa cidade, num estado, numa região, num país, num continente, num planeta, numa galáxia... Neste universo?! 
         Quero chegar com isso tudo na seguinte questão: nos consideramos grandes demais, complexos e difíceis demais, quando há coisas muito mais grandiosas, complexas e difíceis de compreender do que nós mesmos. Digo isso porque eu sou assim. Nós, principalmente nós jovens, temos mania de crises existenciais. E fora numa dessas que eu pensei em tudo isso. Há coisas muito maiores do que o amor não correspondido, do que a nota ruim na matéria que tem dificuldade, do que a festa que você perdeu que sua mãe não lhe deixou ir. Existem coisas muito mais importantes, como, por exemplo, ser digna desta sorte. 
         Não estou desmerecendo seus problemas; gosto de dizer que cada um sabe da dor que carrega do peito, e ela pode ser dolorosa em você enquanto não é em outra pessoa. Mas quero lhe dizer que, independente do que for, tudo será maior. Outras oportunidades virão, outras chances você terá, outros sonhos terá e realizará. Viagens, festas, relacionamentos, abraços, tardes com amigos. Tudo é grandioso, tudo tem outra saída. Agora mesmo, sem você ter notado, eu citei subdivisões da vida. Basta você ser paciente, e ter em mente que por mais que tenhamos aquela ideia de eternidade, uma hora terá o fim. Este universo, em algum momento, terá acabado. Então, viva o que você tem agora, antes que as coisas acabem sem que você esteja pronto para o fim.

Nota: Minha irmã, de verdade, me fizera essa pergunta e imediatamente me pus a escrever. É fantástico como a ingenuidade das crianças nos remete à coisas tão grandiosas, à questionar, inclusive, a existência da própria vida. Quis escrever principalmente porque não se trata só de amor; não se trata de desentendimentos entre amigos, muito menos de outras dificuldades que passamos todos os dias. É algo muito maior, que às vezes nem temos dimensão do quanto é grande. Me dá até medo pensar assim, apesar de saber que é a pura verdade.

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