Ela vestiu a primeira roupa que conseguiu combinar. Olhou-se no espelho e começou a pensar no que os outros achariam ao vê-la vestida daquele jeito: era um short preto, curto, e uma blusinha curta, também. Prostituta. Fácil. Mulher da vida. Tirou a roupa na mesma hora que todos esses rótulos lhe vieram á mente. Pôs uma calça jeans e uma blusa solta e muito larga. Deixou o cabelo bagunçado e se olhou no espelho novamente. Sapatão. Largada. Mal cuidada. Respirou fundo e soltou o ar pesadamente. Voltou para o closet e pôs um vestido florido e resolveu tirar suas lentes, pondo o óculos de armação quadrada e geek. Observando as peças no reflexo, mais adjetivos lhe vieram á mente: Nerd, ingênua e menininha de família. Sentiu um calor dominar sua nuca; era a raiva e seus sintomas. Queria não pensar naquelas coisas que vieram á sua mente, mas fora inevitável. Ela não queria ser conhecida por nada daquilo. Não queria se importar como que diziam sobre ela mas realmente lhe incomodava o fato de que as pessoas jugam demais as outras só pelo que elas vestem, pelo que parecem ser.
         O pior é que não é só ela que pensa assim. São tantas pessoas com mesmos ideias, mas tudo não passa da teoria. Tantas pessoas com discursos independentes e maduros em relação á rotulagem e ás críticas da sociedade, mas sempre optam por atitudes que sejam bem vistas por aqueles que obtêm a audácia de abrir a boca para falar de alguém. Na vez de estar olhando para o espelho que se envaidece todos os dias e pensando no que podia melhorar, está muito bem acomodado no sofá de casa falando mal da vida dos outros. É nessas situações que aqueles velhos ditados se encaixam bem. A grama do vizinho é sempre mais verde, esse é o melhor. 
         P-r-e-c-o-n-c-e-i-t-o. A palavra fora independentemente soletrada em sua cabeça. Riu ironicamente. Na semana anterior, assistiu á uma palestra sobre o assunto e começou a se cobrar menos. Passou a ver o mundo com outros olhos. A questão é: As roupas realmente são como o espelho de sua personalidade? Já sentada no chão do closet com semblante de derrotada, balançou a cabeça negativamente. Decidiu, ali, que vestiria o que acharia melhor. Acabara de criar um bloqueio em sua mente e, depois daquilo, o que criticaria na roupa era se ela ficara bem em seu corpo e não aos olhos dos outros. Negaria qualquer comentário negativa e queria ver o primeiro que fosse lhe olhar com negação. Que se dane você e seu pensamento do século XX, pensou. Ela está aqui para ser quem é e não para parecer aquilo que a sociedade impõe que é o certo. E, se vierem lhe dizer que o que faz é errado, ela dará de ombros e dirá em alto e bom tom: é problema seu ou meu?

N/A: Mais uma tentativa de crônica. Eu juro que, em algum momento, eu conseguirei produzir uma crônica digna de respeito. Até lá, fiquem com essas quase-crônicas. A de hoje fala de rótulos, mas não precisamente deles. Fiz uma observação um tanto grande sobre como as pessoas gostam de olhar para os outros e adivinhar como aquela pessoa é só pela roupa que ela veste ou pela forma como andas. Faça-me um favor, sim? Para! Tá feio, não é benéfico e só quem sai perdendo é você. xx,

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