Que lindo! Está chovendo! O que poderia melhorar esse momento? Claro que pode melhorar. Um casal na minha frente, está faltando se engolir. Tenho certeza de ter visto a língua dele escapar para a bochecha dela, além, claro, das palavras lindas que um sussurra para o outro, e da mão dele que está quase entrando na blusa dela. Ew, nojento.
       O melhor ainda é o fato de não poder sair desse café, porque veja só, está chovendo! Então tenho que ficar presa em um compartimento que exala doce e café, sendo que eu não posso gastar mais um tostão, e ainda tem esse casal de presente na minha frente se engolindo. Acho que eles não entendem o significado da palavra público, espaço público, com pessoas, crianças. Não é o lugar especifico para dar uns ''amassos''. Pior que eu não sei na verdade, talvez se fosse eu com alguém, estivesse na mesma situação do casal-das-línguas-na-bochecha. Talvez eu só queria ser a menina da outra mesa com as amigas, gargalhando. Não que eu não tenha amigas, mas a muito tempo não faço isso: sair e tomar um café com alguém, há tempos não gargalho. PARE. PARE. Meu sinal de drama está alertando! Nada de ficar parecendo uma menininha de séries norte-americana. Eu sou mais que isso! Mentira! Sou só uma pessoa normal. Realmente o alerta de drama acertou.
       Olho para a frente novamente. E lá está o casal. Olho para trás, três amigas. Na mesa ao lado está um homem e uma menininha, uma filha e um pai. Lá no fundo está uma menina, sozinha, com seu celular. Sou eu, e meu reflexo no espelho. Ainda estou admirada de não ter vindo ninguém  para  frente daquele espelho e ter começado a tirar fotos, com aquelas poses que destacam o corpo, e postam em todo tipo de rede social. O dito status. Porque, meu bem, você pode não ter amigos, pode estar triste, mas o seu status tem que ser perfeito, sempre em ''alta''. Pensando bem, que bom que esse casal-das-línguas-na-bochecha está se amando, que bom que essas amigas estão rindo, que bom que o pai e a filha estão juntos, porque no fim, mesmo nesses pequenos momentos estão juntos. Esqueceram um pouco o bip do celular, esqueceram de tirar aquela selfie, e estão juntos. Largo meu celular, tomando o restinho que tinha do meu café, e olhando para o espelho. Isso cansa: falar, falar, criticar, e no fim ser tudo isso. Ser uma viciada, que tira foto no espelho, que critica demais, que é sozinha, mas quer se mostrar lindamente feliz. Está na hora de parar de ser hipócrita. Será que aquela chuva ainda está rolando?
       Levanto do meu canto, deixando o casal de lado - a língua dele ainda está na bochecha dela -, as amigas de lado, o pai e a filha. Saio do café, fazendo a chuva como minha companhia. Ela podia virar homem e ser meu namorado. Vamos chuva. Minhas roupas começam a se encharcar, e meu cabelo a molhar. Ops... Esqueci. Meu cabelo, burra. Bem... Minha blusa vai ganhar outra cor. A calçada? Pode ser também. Azul.

Notas: Mais uma crônica, que não ta parecendo crônica. Obrigada aos comentários da outra crônica. E bem essa aqui deixa uma mensagem escondida e explicita ao mesmo tempo. Por fim, viva a vida.
                                                                       

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