Acende, desliga a luz, puxa, solta o carregador, trava e destrava o celular, um tic tac para lá e para cá, os dedos se sincronizam no teclado, o volume aumenta e abaixa, as batidas mudam, o batucar do coração muda, a respiração passa rápido, inspirando, expirando.
          Os pés batem para lá, para cá, inventando um caminho sem sair do lugar. A boca se move, falando, mastigando, batendo entre si. Os olhos falam, muito mais que a boca, são encobertos pela tela do celular, a do computador, invisível a quem precisa vê-los, escondidos, derramando água salgada pelos cantos, se escondendo da realidade. Nariz vermelho, limpado junto com a ferrugem, tic tac de novo, ninguém mais levanta os olhos, alienados no seu próprio mundo, tentando ser visível em algo invisível.
          Atrás da tela, há alguém, há uma vida, eles não percebem o tic tac; não do teclado, do relógio. A vida está passando, atrás dessa tela há um ser humano, escondido em si próprio.


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